O grande presente que é a vida

Ao contemplá-lo logo coloquei-me a sonhar sobre o seu conteúdo significativo. É uma linda imagem (IA) da obra de arte de Andrés Curruchich,1968 chamada “Os padrinhos”, associado a uma frase contida em O amor em tempos de Cólera, de Gabriel Garcia Márquez, e diz assim: “Ele se deixou levar por sua convicção de que os seres humanos não nascem totalmente no dia em que as mães os dão à luz, e sim que a vida os obriga muitas e muitas vezes a se parirem a si mesmos”. Pensamentos sobre a vida e suas vicissitudes ocorreram, assim como a do percurso e trajetória. O que é a vida senão, movimentos constantes de um “parir” nosso de cada dia? Viver exige! O tempo urge! Freud em seu texto “Mal-estar na civilização” (1930) diz assim, “Não podemos pular para fora deste mundo, estamos nele de uma vez por todas”, e “há um vínculo indissolúvel, de ser uno com o mundo externo como um todo”.
E, “o propósito da vida é simplesmente o programa do princípio de prazer, que domina o funcionamento do aparelho psíquico desde o início… E não há possibilidade nenhuma de ele ser executado, todas as normas do universo são contrárias”. Então, Freud diz que “a felicidade, contudo, é algo essencialmente subjetivo” e “A sociedade e os seus padrões influenciam nossa felicidade”, destacando então o conflito entre nossos desejos individuais e as expectativas da sociedade”.
Martin Buber em seu livro, Eu e Tu, enfatiza que “o homem conheceu o universo no seio materno, mas que ao nascer tudo caiu no esquecimento. E este vínculo permanece nele como uma imagem secreta de seu desejo. Não como se sua nostalgia significasse um anseio de volta, como prescrevem aqueles que veem no espírito, por eles confundido com o intelecto, um simples parasita da natureza. Ao contrário, é a nostalgia da procura do vínculo cósmico do ser que se desabrocha ao espírito com seu Tu verdadeiro” … “Tudo o que será representado diante do homem adulto, como objetos habituais, deve ser conquistado, solicitado pelo homem em formação num inesgotável esforço, pois, coisa alguma é parte de uma experiencia, nada se revela senão pela força atuante na reciprocidade do face a face”.
Realmente, desde nossa concepção há um turbilhão de emoções que giram em torno de perdas, separações, conquistas e ganhos. É um vai e vem entre dúvidas e incertezas no dia a dia do cotidiano. Narcisicamente, lutamos diante das cesuras, resistindo ao crescimento e desenvolvimento. Mudanças implicam visitar o novo e o desconhecido, muitas vezes, há escolha em direção da alienação e refúgios até para nossa própria sobrevivência. Utilizamos mecanismos de defesa como racionalização, negação e fuga e até mesmo, a retirada para um mundo delirante. Nós psicanalistas sabemos, que em determinados momentos, quando as defesas falham, frustrações de qualquer tipo podem ser sentidas como aniquiladoras.
A contemporaneidade em meio a aceleração, cobrança desenfreada, perfeccionismo e prevalência do Ter leva o indivíduo em direção à frustração constante e ao esgotamento físico e mental onde a construção do Ser acaba sendo impossível. Um vazio invade e o tédio toma conta e a busca por soluções mágicas surgem subitamente. É preciso sustentar esse mal-estar que irrompem em nossa rotina, ressignificar as faltas. Saber esperar o tempo certo. Esperar é sanidade. Dar um tempo é saudável. Simbolizar é vida.

Há pessoas que sofreram dificuldades na constituição do psiquismo onde as figuras protetoras iniciais foram internalizadas sem que estabelecesse um sentido de coesão, segurança e a construção de si próprio é vivenciado sempre como risco de dissolver-se, desagregar-se ou liquidificar-se. Essas pessoas têm maiores propensões ao suicídio. Todos os seres humanos necessitam do olhar do outro para se sentirem existentes, mas para algumas pessoas esse olhar é fundamental. Na ausência dele, elas não se sentem vivas, sentem-se perdidas ou à deriva. Os aspectos preventivos poderão levar à identificação de sofrimento mental de forma precoce, evitando assim, um possível suicídio ou um estado mental conhecido como colapso. Buscar ajuda especializada, poderá iluminar e organizar os pensamentos soltos e desagregadores. Sempre haverá alguém disposto ao amparo e acolhimento.
